Frota de submarinos

"O amor real passa por escalas físicas, psicológicas e espirituais para compreensão e integração com o sagrado"
Platão.

Meu marido me enviou um artigo do New York Times sobre aquele programa do canal Discovery Home&Health chamado John and Kate + 8. Para quem não sabe, é a história real de um casal na batalha diária para criar oito filhinhos que se encontram na primeira infância. Insanidade total. Eu nem gosto de assistir porque fico deprimida só de pensar na trabalheira daquela mãe. Mas, de vez em quando, eu resolvo dar uma espiadinha para recordar que a minha vida não é assim tão complicada. Afinal, só tenho dois guris pequenos. Ufa, poderia ser mais grave.

Mas o artigo fala do sucesso estrondoso da série e também de uma possível crise no casamento dos dois. Parece que o marido, enfim, pulou a cerca. Digo enfim porque só consigo enxergar, aqui, aquela velha e boa piada do submarino: “Casamento é igual submarino: pode até flutuar, mas foi feito para afundar”.

Sinceramente, até acho que eles duraram bastante. Como ser um casal e ao mesmo tempo ser mãe e pai de oito crianças o tempo todo? Kate deve estar fechada para balanço há tempos. E John, como um típico exemplar de espécime masculino, resolveu dar um jeito na situação da maneira mais milenar do mundo: arrumou sexo com alguém mental e fisicamente disponível.

Sincronicidade...Segundo uma amiga minha que não via há tempos e com quem fui almoçar nesta semana, a gente gosta de falar em coincidências, mas na verdade existe uma sincronia nas coisas da vida. Talvez por isso meu marido tenha me enviado este artigo sobre o John e a Kate justo agora. Porque esta semana é a semana do saco-cheio nos casamentos. Ouvi de tudo das minhas amigas casadas há longas datas. Uma delas diz que, por ela, o marido já tinha saído de casa. “Ele só pensa na empresa, não compartilha os problemas e está devendo horrores”.

Outra maruja chegou ao trabalho bufando com o marido por causa das pressões em relação ao sexo. “Sexo é conquista, pô!”, desabafou minha little friend, estapeando o ar. Sim, nós mulheres concordamos com a tese, mas os homens, por mais que se relacionem com estes seres complexos e neuróticos, ainda não conseguiram introjetar o mantra essencial: romance, romance, romance.

Por isso, seguem na estratégia equivocada de crer que mulheres com filhos, casas e empregos para administrar, devem estar prontas para o sexo assim que eles, que não têm preocupações milimétricas básicas na cabeça 24 horas por dia, estejam a fim. Como pirlimpimpim...Quem dera fosse assim...

Chegamos à brilhante conclusão, esta minha amiga e eu: os homens procuram as mulheres de 20 anos porque elas são as únicas totalmente disponíveis para o sexo a qualquer hora, lugar e momento. Afinal, a maior parte delas mora com os pais, não tem de orientar as empregadas diariamente e não tem filhos. Ou seja: não precisam pensar que as crianças devem tomar aquela homeopatia quatro vezes por dia, no que vai na lancheira do mais novo para não repetir o lanche do dia anterior, na roupa que a passadeira deve passar do avesso, naquelas que alguém deve lavar separadamente, no menu do almoço, no presente que precisa comprar para a festinha do colega da escola no próximo sábado, no telefonema que esqueceu de dar para aquela amiga que não vê há tempos...

Essas mulheres de 20 anos de cérebros fresquinhos, novinhos e despreocupados serão sempre o objeto do desejo masculino. Cultuadas e cobiçadas por seus corpos jovens, porém o mais desejável: por suas mentes deliciosamente isentas de responsabilidades de formiguinha broxantes. Daí a traquinagem divina: (acho que Deus prega uma peça na gente neste ponto: como criar homens e mulheres para ficar juntos se isso é praticamente impossível?) não tem jeito desse frescor irresponsável perdurar na rotina do lar doce lar.

Talvez se o casal optar por não procriar, a coisa funcione um pouco mais light. Entretanto filhos são um desafio tentador. A gente ganha tanto com eles...Se não tê-los, como saber o que estamos lucrando? Talvez o problema esteja no casamento em si, no formato monogâmico que inclui a divisão da casa, da cama, da comida, do banheiro e das chateações. Modelo no qual já sabemos que a mulher é sempre a que sai mais combalida dos embates da rotina.

Só sei que a cantinela feminina é a mesma: "os homens não enxergam o tanto que fazemos, a nossa exaustão, a falta de diálogo e de atmosfera lúdica nos casamentos, sem contar que não respeitam a nossa necessidade de espaço e solidão". Por sua vez, a ladainha masculina também é sempre monocórdica: “minha mulher não quer fazer sexo comigo três vezes por semana. Por quê? Eu não entendo porque ela está sempre tão cansada e indisposta. Eu não entendo porque passo o dia todo há 500 quilômetros de distância, mas às nove em ponto a encosto na parede e nada”.

Diz aí se isso é o não é uma piada de humor negro? Deus, Deus, em que confusão você meteu os heterossexuais. E o que será que deu no meu marido para me enviar este artigo? Não, não me respondam. É só retórica, tá?

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