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Mostrando postagens de novembro, 2015

Alheamento

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A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. Manoel de Barros Vocação para o detalhe não carrego. A precisão me enfada. Por isso tudo que faço é meio capenga, falhas daqui e dali. Não tenho paciência para recontagem, revisões, reescritas. Geralmente vou deitando sobre o papel as ideias, deixo vir sem nenhuma autocrítica. Releio, sim, é claro, mas em modo pente grosso. Não é pente de catar piolho, pois buscar a perfeição nunca me motivou.  Deve ser por isso que não sou boa cozinheira. Quem cozinha de verdade precisa de atenção. A meticulosidade de juntar as porções devidamente balanceadas. Vivo na gang

Tiros no coração

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Gatilhos, gatilhos, trigger: “recurso de programação executado sempre que o evento associado ocorrer”. Cérebro: computador “bugado”, como dizem meus filhos. Os atentados de Paris dispararam gatilhos de um estresse pós-traumático que tenho sem levar muito a sério. Aquelas imagens de velas acesas e empilhadas pelo chão; aquelas mensagens e flores pelos cantos... Isso tudo de novo nas manchetes me trouxe a depressão e ansiedade vividas em Nova Iorque após o 11 de setembro.  A maior parte das pessoas que me lê já está caduca de saber que eu estava em Manhattan no dia da queda traumática das Torres Gêmeas. Eu é que às vezes me esqueço de que não se experimenta um evento dessa proporção sem sequelas. Voltaram os arrepios pelo corpo, a descrença na humanidade, o pavor da Terceira Guerra mundial, o medo de nunca mais ver a minha mãe, vejam vocês. Minha mãe, que já está morta há cinco anos!  Mas foi essa a minha angústia maior quando vi o avião entrando na segunda torre. Meu