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Mostrando postagens de maio, 2013

África do meu coração

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Ao Vítor, representante do maravilhamento  nessa nova geração. Acompanhando a belíssima série "Africa", que esteve de passagem no Discovery Channel, bateu uma super saudade de "O Mundo Animal". Com esse programa, transmitido pela Globo por muitos anos, aprendi a amar os grandes mamíferos e a sonhar com o safári que, um dia, ainda espero concretizar.  Não perdia um episódio. De segunda a sexta, visitava as savanas antes de ir para o colégio Notre Dame. Era um mundo tão distante, tão exótico e inatingível, que só me restava cair de amores por ele. Fisgada pela tela da TV Sharp, de qualidade hoje considerada patética, embarcava na voz dublada do narrador. O teto podia desabar, mas não abandonava meus leões e elefantes.  Na década de 70, o Brasil vivia na periferia do planeta. Um país confundido com as demais nações pobres do hemisfério sul. Brasília, então, era o fim da estrada onde o vento faz a curva. Dead End. Capital incompreendida e desprezada

As desvantagens da sabedoria

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Cavalgar é ser livre. Mas por que diabos escolheram um verbo tão feio para uma das ações mais deliciosas da Natureza? Meus filhos vivem me perguntando o porquê dos nomes, das palavras. Querem encontrar significado para tudo. E agora parece que está na moda fazer livrinhos espirituosos com novas definições para conceitos há muito conhecidos. Podia tentar criar o meu e ver se, enfim, desencantava desta prisão no mundo antes da fama.  Mãe: espécie que espera que seu filho seja sempre maravilhoso, nunca, “problemático”.  E vocês me perguntam: por que essa obsessão com a fama? Nem tanto com a fama, mas com a autonomia financeira para viver da escrita que ela me daria. Seria um prazer ser paga para escrever colunas diárias, semanais, crônicas e até romances, se eu soubesse como criá-los.  O horóscopo de Quiroga para os peixinhos diz hoje:  As coisas vão, as coisas vêm, as coisas vão e vêm, é esse vaivém de tudo que você precisa assimilar da melhor forma possível e, no

Lição de casa II

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Em geral, sou intolerante. É um defeito terrível. Detesto, por exemplo e de antemão, os deveres de casas dos meninos. Esses nos quais os pais têm de dar sua mais politicamente correta contribuição, então, me deixam exasperada. Sei que isso tem a ver com a minha incrível autossuficiência infantil. Sobrevivi a um lar hostil. Não por violência ou abusos psicológicos, mas por excesso de contingente e de contingências.  Eu me virava sozinha. Não existe nenhuma memória de minha mãe sentada ao meu lado acompanhado minhas atividades escolares. Os deveres eram problema meu. E assim cristalizei a missão: a escola era algo que dizia respeito apenas a mim. E não cabia à filha desapontar à mãe – que se espremia de todas as formas – para pagar aquela instituição particular de ensino. Privilégio que nenhum dos meus outros irmãos tivera.  Mas preciso admitir que alguns deveres de casa dos meninos acabam rendendo boas reflexões adultas. Outro dia, foi a gratidão. Hoje, a tolerância.

Confissões da Adolescente

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Enfim conferi “Somos Tão Jovens” ontem. Não digo que foi uma decepção porque eu já imaginava, pelo trailler e pelos comentários de alguns amigos, que não era um filmaço. Não sei se foi proposital, mas me pareceu que o diretor optou por mostrar um grande making of . Algo amador, como se fosse um vídeo de formatura dos colegas de Comunicação. A direção de atores é fraca e o roteiro cheio de buracos deixa quem não conhece Renato Russo e a história do rock de Brasília, a fundo, no ar. “Somos Tão Jovens” é mesmo imaturo, verde. Ficou o gostinho de podia ter sido uma obra-prima...  Mas os acordes iniciais de “Tempo Perdido” na abertura do filme emocionam. Esmagam o coração com pilão de ferro. E a relação de Renato e Aninha me trouxe de volta a um tempo que não foi perdido, como na canção. Eu tive um relacionamento daqueles, igualzinho. E o nome do meu eterno amor adolescente é Claudio Scafuto Filho.  Não tinha ideia de que Renato tivesse tido sua alma gêmea juvenil nos mold

Palanque

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Do nada, Marisa me comunicou: “você vai fazer o meu discurso de aniversário e aposentadoria”. Intempestiva e enfática como sempre. Quando Marisa incute algo na cachola, você pode esquecer. Ela não. Figura teimosa, obstinada. Pega no pé, na mão, no coração. Ocupa espaço. Ninguém fica indiferente.  Mas escrever o quê nesse discurso, meu Deus! “Você é publicitária e jornalista, então é você!” Tá, sobrou pra mim, já entendi. Vou ter de me virar nesse marketing político. Nunca fiz campanha para candidato, caramba! Ainda mais para candidato honesto como Marisa, franco como Marisa, autêntico como Marisa. Ou seja, Marisa não existe. Marisa, só inventando. O que mamãe e papai estariam pensando quando conceberam Marisa, assim, tão ela mesma?  Então, vamos lá. Primeiro as primeiras coisas. Já vou logo dizendo, não recordo da infância de Marisa por um motivo óbvio: eu não havia nascido. As primeiras imagens mentais da minha irmã vieram por fotos preto e branco. Esparsas como t

Recônditos

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As músicas e os cheiros são os duendes mais danados. Acessam memórias escondidinhas, aliás, esquecidinhas. Memórias com toneladas de pó, enferrujadas, embora queridas e importantes.  Voltava com os meninos de uma visita ao Cabelo Club. Fim de tarde. Intenso era o movimento ali na L2-Norte, que há algum tempo não frequentava. Vínhamos em paz, cortes cumpridos, filhos mais apresentáveis. Liguei o rádio quando chegava à altura de cruzar o Eixo Monumental e, trocando as estações, pego uma canção do Supertramp que me fez retornar, na velocidade da luz, a um sem fim de lembranças caras.  “Fool’s Overture” é o nome da obra-prima que não toca nas rádios por ser grande e pouco comercial. My friend we’re not alone... He waits in silence to lead us all home/ So you tell me that you find it hard to grow/Well I know, I know, I know/And you tell me that you've many seeds to sow/Well I know, I know, I know... Como é difícil crescer e abandonar nossos sonhos de grandeza, nossos

Mais cigarras, menos formigas!

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Em Brasília, oito horas. O céu está azul estalante. Sento-me na mira do raio de sol que atravessa o vidro. Silêncio, raridade em lugares públicos brasileiros. Uma xícara de achocolatado fervendo com um pingo de café. Admiro. Absorvo. Absorta... Há livros espalhados pelas mesas. Um convite: conheça-me.  Na minha, “Contos Escolhidos de Machados de Assis”. Faço pouco caso porque o dia está radiante, extrovertido e as árvores sem folhas soltam apelos sussurrantes. Mas quem resiste ao objeto livro ali tão próximo, também pedindo colo...  Abro. Leio mais uma vez sobre a vida de Joaquim Maria. Entendo mais uma vez sobre o Realismo na literatura brasileira. Penso no realismo das minhas confissões virtuais e no realismo de ser acordada pelo filho atrasada, ainda imersa no sonho. No capitalismo selvagem que nos faz entrar nessa engrenagem “Tempos Modernos” trituradora de pausas.  Suspiro e tomo um gole. A fórceps, consegui essa quebra. Imperativo aproveitá-la. Que atitude

A Loba

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Talvez esse tenha sido o Dia das Mães mais significativo da minha curta carreira neste papel titânico. Tudo porque estava realmente sozinha com os meus filhos. O pai saiu em viagem de negócios, como diria o filme ou as mamães de antigamente. E a casa ficou por minha conta. E nossa, como ficou mais fácil!  Porque percebi, aliás, venho percebendo há tempos, que não só os filhos estão a “brigar” pela atenção e afetos dos pais. Pai e mãe também disputam, mesmo que veladamente, o amor dos filhos. Pelo menos os pais de hoje, muito mais participativos e presentes. Tão participativos e presentes que, às vezes, não sobra espaço para a mãe entrar em cena. :)  Não reclamo de jeito nenhum do fato de meu marido ter se encontrado na paternidade. Sempre soube que ele seria um paizão. Esse comportamento maternal paterno me deixa confortavelmente tranquila para não me desdobrar neuroticamente com os cuidados que a prole exige. Entretanto, também me desafia, todos os dias, com um compon

Ouija em ação!

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O que fazem algumas pessoas a se entregar de corpo e alma em sofrimentos indizíveis por uma causa? Por que só algumas pessoas serão tocadas por esse chamado? Questões que sempre me fascinaram. Eu e a minha alma dramática, Joana D’Arc tupiniquim (da boca pra fora) queria muito ser uma enviada. Uma predestinada. Tem tanto furor nesses destinos, não?  Quem me dera ser o Quinto Elemento agregador, a missionária, a desbravadora, a que encabeçou a revolução. Essa paixão toda, que nunca foi minha, que é apenas uma ficção, me devora, me estimula. O que essas pessoas têm que a gente não tem? Terminei de assistir ao lírico filme Xingu e fiquei comovida. Histórias de ferro, fogo e obstinação revolvem minha lava.  Sinto que tenho vocação para mártir. O problema é que eu ainda não descobri pelo quê entregar a minha vida. Queria pra mim essa energia, esse ímpeto. A idealista ferrenha. Ser a primeira a chegar até ali. Abrir a picada no meio da mata. Montar um posto avançado. Que ardor

Seleção Natural

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Toda família é mais crood do que pensa. A sacada do nome do filme já dá uma ótima pista: croods, na verdade, pode ser definido como “crude”. E crude é rude, selvagem, rústico e natural. Roots. Raízes. Fazia tempo que uma animação não me fisgava desse jeito. É inteligente, divertida e bem bolada.  - Esse é meu bicho de estimação!  - Bicho de estimação? O que é isso?  - É um animal que não se come!  - Ah, eu pensei que o nome disso fosse criança...  Hahaha!! Nada mais verdadeiramente cruel. Vontade de comer eu nunca tive, essas taras eu deixo para o Hannibal, mas de esganar, às vezes. E lá se fomos nós, os croods brasiliensis ao Cine Drive-In. A última vez que estive naquele lugar sinistro havia sido com o Bernardo em tempos de namoro.  Os meninos ficaram apreensivos na chegada. O cenário espanta mesmo. É escuro, desolado, decadente. Todavia, superado o impacto inicial, percebemos que mais croods fizeram a mesma opção para o fim de domingo: cineminha famil