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Mostrando postagens de março, 2013

Os textos que você fez para mim

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Mamãe, fica um pouquinho comigo... Você nunca mais cantou aquela música... Eu cantei para você ontem, meu filho... Não, aquela música... Qual? A que termina tipo assim... “e um alegre despertar...” Ah...  “Tá na hora de dormir, não espere mamãe mandar... Boa noite, Romulito e um alegre despertar...” O que um bom jingle não faz! Atravessa gerações e serve de canção de ninar para novos niños.  “Porque cantar parece com não sofrer, é igual a não se esquecer que a vida aqui tem razão”. Foi a primeira música que ouvi hoje, primeiro dia do Outono de 2013. E a gente que pensava que o ano 2000 era coisa de ficção científica. Curti Ednardo e voltei no tempo da MPB de elevada inspiração poética. Belchior, Fagner, Amelinha, Zé Ramalho... Anos 70... Recordações que encharcam os olhos.  Queria gravar o pedido diário do meu filho que logo mais não será diário, não será. Não existirá a não ser na minha lembrança. Mas se eu começar a sofrer de Alzheimer e me esquecer de que ele p

Gulodices

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Sexta é um alvoroço só. De repente os colegas falam mais alto, se reúnem em rodinhas. O chefe mostra as cópias das receitas que está aprendendo no curso de gastronomia, os papos são embalados para presente. O formal perde, enfim, sua compostura. Sexta é o melhor dia da semana. O dia que antecede a noite e a noite que promete, principalmente quando se recorda que amanhã é sábado.  Molhos, cortes, sulgo, suculentos, cheiros... A cozinha é algo quase sexual. As pessoas colocam um pedaço da torta na boca e fecham os olhos. “Humm, vou ter de comer isso de qualquer jeito”. Como diria um homem ou mulher profundamente atraídos por seu objeto de desejo: de hoje não passa!  Entendido o fetiche do público por programas de culinária. É voyeurismo assumido. Ver alguém que saca do riscado preparando um prato é assistir a um filme erótico da melhor qualidade. Quem sabe você pode repetir a performance na mesa ou na cama? Mil e uma possibilidades. Afinal, “a água na boca é melhor do q

Vale Tudo?

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Tenho uma teoria: o Brasil já está num estágio evolutivo muito melhor do que o Congresso Nacional que lhe representa. Não sei as razões dessa discrepância, mas ela é bem visível. Entendo patavinas das leis eleitorais. OK, as legendas levam para a Casa do Povo gente que não deveria estar lá por não ter recebido votos suficientes. Mas sabemos, também, que tem um monte de deputado e senador, a maioria, de fato, que foi eleita legitimamente, mas não faz jus em nada do que o eleitor pretendia dele.  Veja o caso das manifestações nas redes sociais. Abaixo-assinados eletrônicos pipocam, demonstrando a insuportável indignação da população relativa à posse de Renan Calheiros na presidência do Senado e também à nomeação desse tal de Marco Feliciano, que nunca havia tido o desprazer de tomar conhecimento, para presidente da Comissão de Direitos Humanos. Entretanto, de que adiantam os levantes? O Congresso segue impassível, totalmente insensível à voz da sociedade que deveria represe

Amigos quilométricos

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Hoje eu tô clichê. Esmalte vermelho descascando das unhas, cabelos no volume, naturalmente densos, caindo pelos ombros. Um vestido de brechó. Rindo à toa com as sacadas criativas dos outros e sem vontade alguma de trabalhar.  Antigamente (nem precisa pensar em termos de séculos, mas de uma, duas décadas) uma pessoa como Paulo Tiefenthaler (Paulo Oliveira), apresentador do programa Larica Total, jamais chegaria a lugar algum. Ficaria no limbo, perdido. A sociedade não era capaz de aceitar ou entender alguém nesse nível de irreverência e autenticidade. Que bom que os tempos mudaram e quase todo mundo pode encontrar seu espaço no... Mundo.  Em compensação, a gente lê no jornal que um garoto de 22 anos atropela um ciclista, o braço da vítima fica preso no parabrisas, o motorista não socorre e, ainda por cima, joga o membro do rapaz no córrego mais próximo, impossibilitando qualquer tentativa de reimplante.  A gente aceita as idiossincrasias alheias com mais flexibilida

Vice-versa

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Ameaçadora a página em branco. Então a urgência de maculá-la com qualquer ideia. Mas quando o insight não vem, o que se faz? O sol está tão bonito lá fora... Comemora-se o Dia Internacional da Mulher e é aniversário de uma boa amiga, exemplar digno de ter nascido nesse dia em que o feminismo e o feminino se encontram, se abraçam e se unem para gritar basta! Queremos ser apenas o que somos. Libertas de rótulos, de cabrestos, de discursos que nos protejam ou nos enalteçam como algo extraordinário. Existimos. Homens, convivam com isso!  Só que eu não quero escrever panfletos. Quero a manhã para ficar deitada na grama. Para ouvir meu filho rindo gostoso das besteiras que ele mesmo inventa. Sonhei que estava num brechó com outra amiga e acordei divertida. Tasquei U2 – The Joshua Tree – no último volume no carro e fiz uma garagem de ré, mostrando que mulher também sabe dirigir quando está a fim. E se não sabe, quantas rugas de preocupação...  Todavia, no Dia Internacional da

O blefe

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Sonho meu... Sonho meu... Chegara a hora. Não era possível adiar nem mais um dia. Como ter 42 anos e nunca ter feito um pudim de leite condensado? Saiu do torpor do sofá onde assistia a mais um episódio das inúmeras séries de investigação criminal chamadas de paranoicas pelo marido. Tolinho... Mal sabia o esposo que ali estava uma forma de canalizar os instintos assassinos em relação ele. Deveria agradecer a quem inventou tantos crimes mirabolantes para ser desvendados, isso sim!  Pesquisou várias receitas no IPad e se sentiu bastante moderna. Algumas pareceram fáceis demais porque, de fato, qual é o segredo de um pudim de leite moça? Mas primeira vez é first time. A gente treme um pouco, desengonça, desajeita. Resumindo, a insegurança batia forte. Tão forte quanto os chefs sugeriam bater todos os ingredientes: ovos, leite e a invenção dos deuses - engrossado cremoso, leitoso e suculento, que serve para fazer a suprema felicidade dos chocólatras: brigadeiro, iguaria que el

Quantas mais?

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Não sou feminista. Deixo a tarefa para meninas mil vezes mais embasadas e aguerridas como Lola Aronovich, Camille Paglia, Pagu, Rita Lee e tantas outras de antes e de agora que estão aí com boca no trombone, não mais rasgando sutiãs, porém aparecendo peladonas na rua para protestar.  Foi muito interessante ver dois exemplares desse tipo de ativista no primeiro desfile de Sete de Setembro no qual levei meus filhos. Eles puderam ter um vislumbre do que as mulheres podem fazer por uma causa. Se bem que, com a mãe que eles têm em casa, já estejam bastante cientes das habilidades do tal sexo frágil.  Mas entra ano e sai ano de ativismo feminista e as manchetes dos jornais brasileiros continuam a estampar a mais bárbara e primitiva forma de machismo: os crimes passionais. Fiquei chocada. Não, fiquei triste com o assassinato da vendedora da Pucket no Terraço Shopping porque eu bati papo com ela no fim do ano. Estava procurando um presentinho para a minha afilhada Bibi. E