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Mostrando postagens de novembro, 2011

Dos usos e frutos virtuais

Remasterizar está na moda. Tudo é tão fugaz hoje em dia que já vira clássico em dois anos e cai no esquecimento. Então, nada mais prático do que ressuscitar o velho com uma nova roupagem. As tais releituras tão em voga e às vezes tão enjoadinhas. Mas isso tudo é pra dizer que estou remasterizando alguns textos que haviam sido publicados no blog do Vicente, mas não aqui, no meu blog. Esse aí debaixo é um deles. Alguns vão ler e recordar, outros achariam que era inédito se eu não tivesse escrito esses paragráfos que agora faço surgir na tela com as minhas mãozinhas saltitantes no teclado (eu digito com todos os dedos, uma elegância pouco comum aos que nasceram na era do computador). Para alguma coisa serviu as aulas de datilografia do século passado... Mas, sem mais delongas, vamos a ele, o astro-rei da vida em sociedade: Geringonça moderna chamada computador. No meu curriculum vitae estava lançado o desafio: entender esta máquina. Não faz muito tempo. Uns 15 anos, no máximo. Hoje, ele

Na calçada da fama

Você sabia que Brasília também tem calçadão onde as "celebridades" podem ser vistas como simples mortais? Só que, por aqui, as nossas estrelas são os políticos e ministros do Executivo e Judiciário. Nada comparável à beleza das globais ou ao talento musical e poético do Chico, do Caetano e de outros bambas que circulam pela orla carioca, mas qual candango já não teve de responder à pergunta: “você vê o presidente todos os dias?” Pois é, quando descobrem que a gente vive na capital da República, acreditam que somos íntimos do poder e que tudo na cidade se resume à Esplanada dos Ministérios. Que todos os dias tomamos café com a Dilma e almoçamos com o José Sarney (blergh!). Culpa da mídia, que faz questão de mostrar Brasília como uma freak, localidade cheia de vazios monumentais e de políticos inescrupulosos. Mas somos, sim, uma cidade de carne e osso. Acredite! E, no calçadão da Asa Sul, podemos nos sentir leves para usufruir um lugar quase normal, onde a arquitetura não se

Teoria da irmandade

Interessante como as mulheres gostam de mostrar suas dores sem pudores. Estava eu de frente para o inacreditável mar de Maceió, de bem com a vida, sozinha, a desfrutar uma salada na Cabana Lopana. No som, o DJ rolava versões bossa-pop de George Michael, The Carpenters, Pink Floyd, Bonnie Tyler, Bob Marley, U2, Madonna e até A-ha, na voz de Michelle Simonal. O cara bota para tocar “Wish you were here”... Putz! Aí matou a pau. Covardia com o espécime feminino que também estava sentada alone à mesa ao lado. Entretanto, ao contrário de mim, parecia sofrer com vários holofotes voltados para ela. Mulher nova e charmosa bebendo cerveja sozinha num dia de sol pode saber: tem algo errado. É evidente que este pensamento machista atravessou a minha cabeça e a dos demais felizardos que curtiam aquela cabana. O mesmo devem ter pensado de mim – reparem na falta de modéstia pelos autoelogios – quando ali me postei encarando o mar. Mas logo adotei uma postura mais confiante: eu me garanto. Estou r

Minha Teresina

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toda rua tem seu curso tem seu leito de água clara por onde passa a memória lembrando histórias de um tempo que não acaba Torquato Neto piauiense fantástico  Olha aí o Piauí, há quanto tempo não vinha por aqui... Do alto do avião, controlando o pânico de voar com espiadas pela janelinha, eu via a terra do pai do meu marido, do avô de meus filhos. Território plano, árido, com milhares de casinhas dispostas no tabuleiro de xadrez da vida sofredora do Nordeste. Um cheque-mate diário nas adversidades. As indefectíveis florzinhas que nascem na rachadura do concreto Chega a ser um milagre todo mundo falar português nesse vasto país tão plural. Os regionalismos são intensos e diversos. É como se a gente visitasse terra estrangeira, mas com o bem estar de se sentir em casa, falando a mesma língua. Calçadão da Av. Frei Serafim Cuzcuz de arroz, bacupari, carneiro, bacuri, doce de mangaba, apito para chamar passarinho, ventilador que joga água, olhe pra isso, oxente, mas rapaz!!!! Bolo

Medalha milagrosa

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O massacre diário de obrigações e chateações às vezes no faz esquecer da beleza de pequenos episódios pueris. Todavia eles estão lá, sempre acontecem. Nada é só azar, Deus me livre! Estou parecendo um livro de autoajuda, concordo. Tudo porque hoje, a caminho de uma atividade burocrática do trabalho, fui abençoada por um destes minúsculos prazeres cotidianos que, de tão delicados e singelos, podem passar despercebidos. Por isso resolvi escrever. Para que eu mesma, uma pessimista por natureza, puxe as próprias orelhas para enxergar o bom da lida diária. Correndo pelos corredores, atrasada para uma sessão extraordinária de julgamentos, sai do elevador colocando a mão no bolso do casaco para guardar a balinha que me salvaria do tédio e do sono, companheiros que sempre me visitam quando estou sentada lá, naquele sepulcro isolado térmica e acusticamente do mundo, fruto das pirações de Oscar Niemeyer. Esse prédio é um sarcófago. Se a gente pensar na soma da idade dos ministros, então, f

Se o meu elevador falasse...

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O casal 20 mora ao meu lado. Para ser mais sincera, mora abaixo, aos meus pés. Ou mais precisamente: no segundo andar. Ela tem um Volvo, ele um Audi. Nossos encontros casuais se dão geralmente na garagem, quando juntos pegamos o elevador. O charme de ambos é impressionante e a sensação de eterna felicidade que eles passam também. Nunca pensei que casais 20 pudessem realmente existir e talvez por isso gostasse tanto da série de TV com Robert Wagner e Stephanie Powers. Eles eram puro glamour e romance. The Harts, o mordomo Max e o cachorrinho Freeway em suas aventuras cheias de grana, bom gosto (para a década de 80, esclareço) e adrenalina. Eu sei, eu sei, estou denunciando novamente a minha faixa etária, mas a vida é assim, sempre traiçoeira. Meus vizinhos não têm cachorrinho frufru. Na minha opinião, mais pontos para eles. Também não rola este lance de mordomo porque seria um pouco demais em um apê classe média. Mas, tirando estes “míseros” detalhes, a vida do casal parece

Mordidas, nacos, lascas, triscos: desabafos de uma chocólatra

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O meu problema é com chocolate. Qual é a probabilidade desta afirmação ter sido proferida por uma mulher? Vou chutar na casa dos 90%. O arqui-inimigo da boa forma, das dietas, da consciência leve como uma pena. Ele, o grande vilão (e por isso mesmo mais charmoso, mais bonito, mais tesudo), reverenciado, desejado e suspirado pela mulherada mundo afora: o lascivo alimento dos deuses maias, astecas, incas e baianos. Quem mandou Ilhéus plantar cacau, pô! Por que será que nós damos a vida por um chocolate, hein? De onde vem esse fascínio de ter o sangue sugado das veias pelo conde Drácula? O flerte com o perigo das espinhas, da obesidade, da diabetes e, menos fatal, entretanto chato, das cáries? Depois de passar quase dois anos me afundando em barras amargas, ao leite e meio amargas, tentando ressuscitar minha mãe por meio de muitas mordidas sôfregas e dilacerantes nos crunchs, alpinos, sonhos de valsa, ouros-branco, serenatas de amor e também, sou filha de Deus, nas iguarias gou

Comercial de margarina

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Na literatura e no cinema eles são tema central de obras que emocionam. Citemos apenas dois: Florentino Ariza e sua amada imortal, Fermina Daza, no belo “O amor nos tempos do Cólera, de Gabriel García Márquez. E o recente filme “O curioso caso de Benjamin Button”, em que o sentimento inigualável acompanha aqueles dois por toda a vida. Estes casais que se amam para sempre sempre nos cativam e nos fazem acreditar que pode acontecer, por que não? E não é que acontece? A gente pode topar com um casal raridade num dia de semana qualquer. Uns a gente conhece por acompanhar a vida pelos telejornais e revistas de fofocas, tipo Jorge Amado e Zélia Gattai. Mas existem outros que damos a sorte de apertar as mãos e presenciar o amor irradiando de seus poros ao vivo e em cores. Minha grande amiga do peito é uma dessas felizardas: os pais dela estão juntos há mais de 40 anos, e a gente percebe que é pra valer. Casal que se curte, que se respeita. Os pais de um amigo do meu marido também v

Felicidades!

CONFEITO "Quero comer bolo de noiva, puro açúcar, puro amor carnal disfarçado de corações e sininhos: um branco, outro cor-de-rosa, um branco, outro cor-de-rosa." (Adélia Prado) Era o dia do casamento. Igreja, mas nada muito pomposo, só a vontade de seguir a tradição, viver o ritual. Ter memória desse dia como um dia único, que não volta, mas permanece tatuado no coração. Entrar com o pai pela nave, os olhares todos nela. A escolha do vestido sempre dolorida, aflita, duvidosa. Fechou num longo justo simples, tomara que caia, alguns drapeados. As curvas sugeridas numa intenção sexy porque não é preciso corar o padre, desmerecer a liturgia. Nunca entendeu as noivas que põem vermelho, decote até a bunda, minissaia. Igreja é igreja e casamento é uma instituição formal, sóbria. Se pretendia ousar ou chocar, casasse no barzinho da esquina ou no salão de festa do prédio. O cabelo vai preso, com um arranjo de flores brancas para contrastar com os fios negros da cabeleira

Três vezes louca

De repente me dou conta de que estou sendo apresentada às irmãs da Adélia Prado. São três. Um trio miserável como as três – não as Três Marias de Raquel de Queiroz, tampouco as Três Irmãs de Tchekhov -, mas sim as três irmãs de Campina Grande/PB, cegas de nascença cantando ladainhas de amor e dor, acompanhadas pelo chocalhar monocórdico do ganzá, nas esquinas da cidade para garantir a farinha do mês na boca. Estou no meio delas, conversando, trocando ideias e me perguntando: por que a Adélia não ajuda as miseráveis irmãs? Vá lá que poeta no Brasil não tem sucesso comercial e, consequentemente, muito menos grana farta, mas não farta nada na mesa da Adélia. Aposto. E as irmãs, coitadinhas, todas rotas como os Três Porquinhos Pobres do Érico Veríssimo!!!! Mas o papo saia fluido e prosaico. A casa era tapera, as cores eram sépia, o filme estava rodando e eu lá, entre elas, a desafiar as convenções como o bando de Los Tres Amigos , aprontando nos confins do norte de Minas, ressecado e

Mulher insustentável

Do nada o marido resolveu religar o boiler do apartamento. Queria testar o aquecimento da água, se valia à pena, ou estava entediado procurando aventura, sei lá. O bichão estava lá escondido num armário na DCE. Teias de abandono cobriam seu invólucro acobreado desde que compramos o apê. E então ele me chama e diz: “quando for ligar o chuveiro, use a torneira da esquerda porque eu liguei o boiler ”. Lógico que minha primeira atitude foi... protestar! Não seria uma esposa se assim não tivesse procedido. Todavia tratou-se de protesto vazio, aquela implicância conjugal de todos os dias que os casais, idiotamente, preservam para o bem-estar de ninguém. Só que aí eu fui tomar o meu primeiro banho a boiler e o negócio mudou de figura. Abri a torneira e a água começou a correr fria, gelada. Eu vi aquele aguaceiro todo sumindo ralo afora e comecei a ficar fula da vida. Mas que troço mais antiecológico! Tanta água indo para o cano até o treco esquentar em pleno outono-inverno! Agor

Minha Goiânia

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Mãe é uma categoria de gente estranha. Uma subespécie (sem que o prefixo nos subestime ou menospreze) que não se convence de que o sonho do filho não pode ser realizado. E havia orquídeas no meio do caminho... Eu tinha de encontrar a tal fantasia de abelha para o Tomás de qualquer jeito. Missão praticamente inatingível porque ele tem sete anos e altura de nove. Além disso, é menino e as indústrias acreditam que só meninas mais velhas gostam de se fantasiar. Entretanto é o primogênito que faz questão de se transformar em outras coisas, sejam elas de fácil realização ou não. Bosque dos Buritis Sorte estar de bobeira em Goiânia porque Goiânia é uma versão miniaturizada de São Paulo, sem poluição e com verde de sobra, o que melhora qualquer astral. A capital do estado de Goiás é uma pequena esmeralda, lapidada de forma aprazível e hospitaleira. As ruas lotadas de árvores amenizam a temperatura ardente e há praças para todos os lados. Basta caminhar um pouquinho para tropeçar em alg