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Mostrando postagens de outubro, 2011

Pé de pato, mangalô, três vezes

“bailam corujas, pirilampos, entre os sacis e as fadas e lá no fundo azul na noite da floresta, a lua iluminou a dança, a roda, a festa..” (João Ricardo e Luli) Vi o prazo final para o envio do texto se esgotar e continuava no vácuo criativo. Escrever sobre o quê? Se pelo menos eu fosse uma versão feminina do Veríssimo e soubesse imprimir humor e reflexão nos assuntos mais sem graça, estaria salva. Aí, de repente, abro minha caixa de mensagens e encontro um recado da amiga paulistana: “Halloween é o cacete/Viva a cultura nacional”. Pronto, num passe de mágica típico das fadas, o tema se apresentou. Primeiro levei um pequeno susto, afinal esta minha cara companheira de estrada é das pessoas mais finas que eu conheço. Eu acho que nunca a vi xingando ninguém. Mas também sei o quanto ela é brava com a história do halloween. Ela vive promovendo o Dia do Saci e uma das óperas favoritas dela é, claro, “O Guarani”, do nosso Carlos Gomes. Mas brigar contra o Dia das Bruxas não é uma

O milagre dos pés de galinha

Era um daqueles dias chuvosos típicos de São Paulo e um amigo de infância me esperava na Avenida Paulista, sob a marquise do 1.698. Combinamos almoçar num self-service de comida chinesa para discutir poesias e matar as saudades de Brasília, nossa cidade natal. Meio-dia, hora de ir para o ponto de ônibus. Meu guarda-chuva de florzinhas rosas era mais um entre centenas, compondo um cenário único: miscelânia de cores e grafismos em sobrinhas transitando erráticas... Belos cogumelos made in Taiwan, China, Hong Kong... Por que estes objetos sempre nos remetem à essência oriental? Peguei a linha Pinheiros. Estava vazio e pude contemplar a paisagem urbana sentada confortavelmente colada à janela. O vidro embaçava com o calor da respiração. Passava as costas da mão para recuperar a imagem cinza daquele dia de maio. No começo da Paulista, uma velhinha acompanhada de uma menina subiram no ônibus. A senhora sentou-se ao meu lado enquanto a garota correu animada para os fundos, sentando-se na

Minha bandeira

Escrevo neste blog sem nenhuma obrigação de seguir temas específicos ou linkar, para usar os termos internáuticos, o meu texto com assuntos da atualidade. Escrevo, pois, o que me dá na telha e minha telha é de vidro, cerâmica, amianto, palha... O que sinto vai para o papel e isso é um grande barato. Mas hoje vou falar de algo que combina perfeitamente com o Dia das Crianças e o Dia do Professor, celebrados em outubro. Assim como me meto nas conversas alheias, às vezes também participo de cursos alheios à minha área de formação e foi em um deles, o Congresso Internacional de Psicanálise e Direito , que assisti a uma das mais interessantes palestras em defesa da escola da minha vida. Bem, isso não quer dizer muita coisa em um país que não dá a mínima para a escola. Quantos discursos maneiros a gente corre o risco de ouvir por aí quando Educação não é pauta séria em nenhum jornal, nenhum programa de TV ou em algum meio de comunicação que tenha visibilidade de fato? Os programas educati

A impostora

Sentada entre o taxista e a cuidadora da creche. No mesmo banco vermelho da escola pública esperávamos nossa vez para ouvir a professora sobre os progressos de nossos filhos. A mãe da 303 sul divaga na preocupação: empregada doente, três dias de licença... O que eu vou fazer? Mas olho para o meu lado e vejo aquela mulher modesta, curvada e envelhecida. Talvez uma empregada doméstica (ainda não sei que ela cuida dos bebês de outras mães numa creche de baixa renda). A espera ameaça ser longa, não custa puxar uma conversa. O taxista atende o celular e diz que vai levar um passageiro e aí eu fico sabendo que ele é taxista. Pergunto qual é o nome da filha dela, essas coisas. Ela reclama da demora, que precisa voltar para a creche, que cuida de 11 nenéns entre cinco meses e um ano. - Onde você mora? - Na Estrutural. Consegui me livrar do aluguel. Depois de 12 anos em Brasília, comprei uma casinha de uma mãe que eu conhecia da creche. Ela estava indo embora para Teresina. Paguei sete mil re

A inveja quase me mata

Apertando o reward, estamos na fila de embarque para retornar à Brasília depois do feriado de Páscoa no Rio. Ano: 2008. Galeão Antônio Carlos Jobim lotado. Filas intermináveis nos esperam e, ao aportar no nosso lugar, bem no final, Tomás (na delícia de seus quatro anos) premia os pais com um sonoro anúncio: -  EU VOU FAZER COCÔ LÁ NA MINHA CASA!!! A senhora que está logo à frente da gente se vira e sorri com simpatia para ele. Imediatamente cutuquei meu marido e cochichei: “Ela é a Nélida Piñon”. Algo que ele não tinha a menor idéia, é evidente. Que inusitado compartilhar a fila da Gol com uma escritora consagrada, ganhadora de prêmios importantes como o Príncipe das Astúrias. - Essa é a fila para São Paulo? – pergunta Nélida. - Não sei, vamos pra Brasília, mas vou checar para a senhora – respondo. - Você é muito gentil, obrigada! Troca de sorrisos para lá e para cá e eu deixo a fila para comprar umas lembranças de última hora. Quando retorno, Nélida Piñon já está numa bifurcaçã

Lições da reforma (não luterana)

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Já são dois meses no nosso novo apartamento totalmente reformulado. Aos poucos, a ficha cai e algumas reflexões sobre esse processo insano de remodelar a casa, o casal e a vida em quarteto vão ficando claros. Mudar faz parte da vida, sim, mas como dói!!!! E, às vezes, como é caro!!!!  Reparto com vocês - ainda bem que eu tinha um blog para extravasar e diminuir as expectativas e neurastenias decorrentes de todo o projeto argamassa - algumas lições (aproveitando o mote do Dia do Professor) extraídas do âmago do meu ser ainda em choque com uma nova casa e seus dilemas. Vamos lá! Fim de reforma é uma transição de segunda ordem (espie o que é que dá ser casada com um filhote de Einstein), ou seja, a mudança de estado reforma para não reforma não é abrupta. Sendo assim, não existe uma finalização definitiva, pronto, acabou. Ela segue em plano inclinado que parece, digamos, infinito.  Ai que meda... Abrindo a new casa para o 1º grupo de amigos Reforma é sinônimo de dívida. Sempre. Não

Bestseller também é cultura

Às seis da manhã eu lia a última observação da morte em “A menina que roubava livros”. Os derradeiros momentos do livro foram cativantes. Derramei algumas lágrimas. Mas não foi assim sempre. Custei um pouco a me entregar à obra. Não acreditei no poder dela. Estava errada. Precisei conferir a pequena biografia sobre o autor, Mark Kusak, para sacar que o cara sempre escreveu para crianças. Daí a clareza de expor a morte sem pudores: cruel e livre. E de retratar as crianças com precisão em diálogos nonsenses e sentimentos cristalinos que só são encontrados neste estágio da vida. Recordo que postei um continho no blog do Vicente que falava da mensageira do além. Alguns comentários demonstraram o desgosto com tema tão sorumbático para o fim de semana. No entanto, “A menina que roubava livros” continua a capturar milhões de leitores mundo afora. Um livro que é a morte do início ao fim. Perdas, perdas e perdas. Interessante, não? Os bestsellers estão cada dia mais profundos e bem escritos

Por quem os sinos dobram?

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para Jandyra Salles Nascimento, com amor Igreja, todo mundo sabe: é lugar santo. Entretanto, a Catedral Metropolitana de Brasília não me parecia assim naqueles tempos.  Atravessava aqueles sótãos (seriam mesmo sótãos, se não estavam em cima, mas ao lado, escondido pelas alvas paredes?) galopando nas molecagens que sempre me acompanharam e que me faziam sonhar. As curvas de Niemeyer... Mármore lívido que nada mais representavam que graciosos escorregadores maculando saiotes, vestidinhos e calcinhas com a poeira vermelha do planalto central. Dindinha ralhava, repreendia, mas a teimosia de menina curiosa me convidava a gritar, gritar, gritar... O som ecoava no vazio daquele imenso castelo transparente. O sol transpassava o vidro e caía bem em cima da minha cabeça. Era uma luz que só vendo! Anjos solenes planavam pelo céu ao mesmo tempo em que não tiravam os olhos divertidos de mim. A inocência me defendia de qualquer pecado. E os porões mal iluminados (poderiam ser chamad

As paralelas ainda vão se encontrar para um café

Segurou a minha mão por uma hora inteira. Não tem santos estigmas, só escaras e a vida que vive nele e o faz brandir, profeta no seu jejum: Ter nascido já é lucro. (Adélia Prado) Mamãe, por que a gente morre quando tem cem anos?, indaga Romulito em nosso caminhar entre a Red Ballon e o apê. Essas caminhadas semanais são sempre momentos de pura filosofia... Às vezes a gente para na São Camilo de Lellis e entra em comunhão com Jesus Cristinho. Rômulo gosta de igrejas, assim com eu. Menina de rituais... Pra quê serve isso aqui, mamãe? Para colocar a Bíblia (nem sei se é para isso mesmo, mas o menino carece de respostas para tudo). E aquela cadeira? E aquela cruz? E o que o padre faz? Na nossa parada na nave da São Camilo rola muita coisa, menos reza. Ou seria o afeto mãe&cria também uma forma de oração? Pois é, quem dera vivermos todos até os cem anos. E ter ciência disso. Pronto, decidido. Daqui para frente todo mundo vive até os cem anos, nem mais, nem menos. Se a

Assoprando o fogaréu de aniversário

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Se eu quisesse ser exata, tería de comemorar um ano de blog no dia 10/10/11. Caramba! Acabo de me tocar que lancei meu primeiro relato do Caiu na rede é... no dia 10/10/10. Cabalístico!!! Isso é que é vontade de ser nota dez (no timbre do Carlos Imperial anunciando as notas das escolas de samba do grupo 1 do Rio). Mas eu não sou exata. Deixo as estáticas, gráficos e exatidões para o Bernardo. Então mudei a cara do blog ontem mesmo, aproveitando o tempo livre escasso do marido SheldonfísicopesquisadorprofessordaUnBpai. Escolhi essa foto que eu adoro (tirada por ele) para emoldurar o primeiro aniversário das minhas histórias. A foto é do início do ano, não foi tirada de caso pensado. Entretanto tem tudo a ver com a proposta do blog.: água, rede, isca, Brasília, reminiscências, viagens... Ipê Branco e uma abelhinha Acho que quis aproveitar a inspiração proporcionada pelo domingo ao ar livre. Realmente o mato me revigora. Viro outra. A proposta era uma caminhada ecológica. Acord