Postagens

Mostrando postagens de junho, 2011

Turbilhão

Acordei de um sono atribulado. É hoje. Desde ontem eu sentia a solidez da angústia. Mãe é culpa em movimento. Se a gente fica e não descansa, se sente uma monstra porque está perdendo a paciência com os meninos à toa. Se a gente vai, e tira umas férias, fica se sentindo vazia e vil por deixar os filhos aos cuidados de terceiros. Terceiros que vão mimá-los, que também os amam, mas isso não faz a menor diferença. Você está para sempre dividida entre a liberdade individual e o amor maternal. Ontem à noite invadi os sonhos dos meninos só para dar uma última cheiradinha naqueles pescocinhos macios. Fiquei um pouquinho na cama de cada um. No ouvido soprei: a mamãe ama vocês! Hoje já estou terminando de arrumar a mala e no salão de beleza cheguei quase atrasada:  -Você está tão séria hoje, Lu!, constatou a manicure. -É a minha versão culpada 100%, brinquei.  Viajar agora nunca é fácil. Nunca é só o lado bom e despreocupado. Sem falar que tem o avião, né? Vencer essa barreira, essa fobia...

Coração na boca

   Assim se passaram dez anos Sem eu ver teu rosto Sem olhar teus olhos Sem beijar teus lábios assim Foi tão grande a pena Que sentiu a minha alma Ao recordar que tu Foste meu primeiro amor Recordo junto a uma fonte Nos encontramos E alegre foi aquela tarde para nós dois Recordo quando a noite abriu seu manto E o canto daquela fonte nos envolveu O sono fechou meus olhos, me adormecendo Senti tua boca linda a murmurar Abraça-me por favor minha vida E o resto desse romance só sabe Deus (Rafael Hernandez) Tá, tá bom, não precisa empurrar! Ei, beliscar não vale, né? Tá, tá, eu conto! Eu conto! Comprei o guia Minha Nova York daquela debiloira da TV (redundância?) Didi Wagner. Pronto. Contei. Me entenda, gente: eu não gosto de dar dinheiro para quem acho que não vale a pena. Entretanto eu precisava me atualizar sobre a Big Apple e talvez ela, a debiloira, tivesse algo minimamente diferente para dizer. Afinal, a menina morou anos na cidade e de lá apresentava o programa Luga

Keskusteluja

  Imaginar é criar realidades... Domingo perfeito para mim começa com café da manhã com bolo, chá, waffle com xarope de maple (não se vive nos Esteites sem consequências), chocolate quente, baguete tradition da La Boulangerie - caprichada na geleia de morango da Casa de Madeira -, frutas bem tropicais e uma granolinha. Xi, faz tempo que eu não tenho tempo de tomar um café da manhã perfeito. Quem tem filho pequeno não come, geralmente engole. E a leseira boa de acordar tranquilamente, sentir o sol penetrar pela janela, abrir o jornal e passar horas comendo essas delícias - para almoçar às três da tarde - é substituída por: “já comeu o seu mingau? Para de enrolar e come!” Mas eu tive um domingo perfeito ontem. Sem o café dos sonhos, mas turbinado com tudo o que eu mais prezo nesse mundo: Arte. Arte sensível e genuína, feita por gente competente, divertida e humana. Depois de quase surtar fazendo os deveres de casa com o menor (quem inventou tarefa de casa para menino de três anos,

Reta final?

Imagem
Como prometi, chego com evoluções fresquinhas do projeto argamassa. Daqui a pouco a reforma completa três meses... Reforma talvez seja um eufemismo para o que gente promoveu no apartamento. Tá mais para reconstrução... Nesse último mês, as mudanças na obra foram em nível micro. Instalações elétricas e hidráulicas, tubulações, gesso no teto... A impressão que temos que nada está sendo feito e que o caos continua o mesmo. “Tem certeza de que vai estar tudo pronto até o fim de julho?” Medindo cada parede. "Ordens do marido" O engenheiro garante que a obra está dentro do curso natural, respeitando o prazo. O mestre de obras concorda e nós, plebeus do tijolo, acreditamos, mas sem tirar os olhos de cima porque nóis não é besta, certo? Coisa boa é realmente acampar o mais próximo possível da sua reforma. Tem de passar as vistas no trabalho todo santo dia... É de lei! Numa dessas visitas, percebemos que os pedreiros ergueram a parede diminuindo a cozinha nuns dez centímetros. Pa

Miles coisas

Gentem, parece que faz milênios que não pinto por aqui. Esse é o problema dessas chamadas redes sociais: uma urgência, uma pressa, uma "obsolescência" imberbe, uma caduquice juvenil, ou seja, uma neura daquelas. Se você não posta nada por alguns dias, já era, já virou história. Já foi esquecida. É o fim. Participei de um curso pago pelo Tribunal (milagres acontecem) sobre Mídias Sociais. Foi bacana, com um guri que se achava deus lá na frente, porque, afinal, nasceu dentro dessas ferramentas todas. Rolou uma consciência pesada básica por não atualizar o “face” todo dia, por ter entrado no Orkut uma única vez na vida e por nem ter ideia do que era flickr . Jogo a toalha. Bandeira branca. Sou mesmo da geração 1.0. Nunca vou me deixar seduzir por esses espaços de exposição e relacionamento(???). Tenho blog porque não vivo sem escrever. Se não escrever, explodo. Claro que seria a concretização do sonho inocente e recorrente de me tornar escritora: ser convidada para publicar

Karatê Kids

Eu nem sabia que existia um elemento químico na tabela periódica batizado de Copérnico. Que meigo! Em meio aos Nióbio, Escândio, Estrôncio, Rubídio, Frâncio, Praseodímio e Háfnio, um Copérnico pode fazer toda a diferença nas certidões de nascimento. Que os pais “criativos” do outro lado da telinha não se sintam estimulados, por favor. Já me basta ter um estagiário chamado Wásny Thailon. Algum voluntário arriscar uma explicação? Tenho uma teoria um tanto politicamente incorreta envolvendo o nome dos meus filhos. Já repararam como pobre gosta de nome com R? Não é à toa que nos campos de futebol os Reinaldos, Rogérios, Reginaldos, Ronicleis, Romários, Ronaldos, Robsons, Robercleisons e derivados formam times e mais times. Aí também incluo Rômulo, alcunha que percebi agradar em cheio as camadas populares. Toda vez que apresento os rebentos para uma empregada doméstica, faxineira, taxista, recepcionista, merendeira, garçonete, é sempre a mesma coisa: “Rômulo, que nome bonito!” Exatament

Exercício de desapego

Escrevi esse texto em 2008, mas a atemporalidade de seu tema me fez republicá-lo, agora, no meu próprio blog. Espero que curtam! Meu primogênito perdeu o primeiro dente-de-leite. Cheguei de viagem a tempo de testemunhar este rito de passagem tão importante e simbólico. Ou seja: meu filho já não é mais um beibe. Ele está dizendo tchauzinho à primeira infância. Logo, logo ele não será mais meu. Deixarei de ter o domínio completo sobre beijos e abraços apertados conquistados ou roubados. Como vou poder beliscar sua bundinha magra daqui a pouco? “Qualé, mãe, se manca, não sou mais criança”. Que missão abissal a de ser mãe. Gerar 30 mil quilowatts de dedicação e cuidados diários para que outros caminhos os levem de nós. Para que outras mulheres, amigos, cidades e famílias desfrutem daquela plantinha que você cultivou com tanto zelo. Eva não nasceu da costela de Adão. Nenhuma mulher é parte intrínseca de nenhum homem e vice-versa. A alegoria está equivocada. Os filhos, sim, são estes se

Domingos na praça

“O farol é o melhor caminho para acabar com o futuro de uma criança.  Quem nunca contribuiu com isso, dando uma esmolinha e depois acelerando o carro com a consciência aliviada?” (Luiz Alfaya – diretor da ONG Rukha) Sinto-me uma antropóloga em trabalho de campo. Uma observadora isenta, porém atenta, captando as nuances daquele pequeno microcosmo sem intervir em suas peculiaridades, mas aprendendo com elas. O que, sinceramente, não sei. Entretanto sinto que eles me dão algo sem nem se darem conta. Sem ao menos acreditar que possam ofertar algo a alguém, uma vez que são eles que pedem, rastejam e se expõem ao frio, ao sol e a rua para ganhar a vida. Eles são o grupo de mendigos que adotaram as imediações da Igrejinha de Fátima para passar seus dias em família. Um eterno piquenique de migalhas. Acompanho esse grupo familiar, me parece que são dois núcleos, durante as minhas caminhadas de fim-de-semana, mas aposto que eles estão aportados ali nos dias úteis também. Em uma das mulheres

O misterioso sumiço de Bob

Se eu fosse uma escritora de verdade, tinha o prato cheio na mão. Se soubesse contar histórias encantadas para crianças, não poderia pedir um tema mais interessante. E a narrativa talvez começasse assim: Numa cidade concreta, onde os museus parecem discos-voadores e o palácio dos reis escolhidos pelo povo (que monarquia confusa) é a letra H que tomou fermento, viviam dois irmãos: Sensato e Danado. Sensato era o mais velho e por ser mais velho era mais ajuizado. Será que já nasceu sabendo que era o primeiro? E melhor nome não podia ter o menino que até avisava aos pais que tinha dever de casa quando os pais, distraídos, falavam para ele ir brincar: - Mas eu tenho dever de casa! Danado, ah, era danado. Sempre a tagarelar tudo sobre todos ou todos sobre tudo: - Mamãe, você sabia que o Nemo mora numa Anemola. - Agora eu vou me chamar Sensato. Tô achando o som de Danado muito chato. - Eu não quero mais dormir de noite. Eu só gosto de dormir de dia. E falava, e perguntava, e fu

Graça recebida

Te contei do encontro que tive com o meu anjo da guarda? Aliás, acho que devo ser uma pessoa de sorte porque, na verdade, foram três anjos da guarda. Eu nunca levei muito a sério esse papo de metafísica. Apesar de ser pisciana e, segundo os entendidos, os peixinhos terem uma conexão direta com o plano espiritual, não acreditava que este lance de ser tocada por uma luz inexplicável seria para mim. É que sou peixe arisco, desconfiado das boas intenções as quais, proclamam os pessimistas, o inferno está cheio. Recordo do meu irmão mais velho e de suas experiências com os livros do Lobsang Rampa, tentando alcançar o nirvana ou mesmo algo mais simples, como conectar com o espírito do nosso pai em algum plano superior (a gente nunca espera que um ente querido esteja mergulhado em enxofre, mas rodeado de liras, deitadinho numa nuvem de algodão). Mas isso era o mais próximo que havia vivenciado em termos de outras dimensões. E então aconteceu, e até hoje é um fato que me cobre de assombro