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Mostrando postagens de outubro, 2010

Fado de uma nota só

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O que sobra das gemas dos pastéis de Belém se transforma... Acho que vou passar pelo menos uma década sem comer bacalhau e azeitonas. Sei que existem brasileiros que nunca experimentaram bacalhau ou azeitonas e soa insensível abrir um texto assim, mas para falar da comida de Portugal a gente precisa ser hiperbólico, pois a gastronomia da terrinha não é para paladares delicados. Ainda bem que nós, herdeiros desses costumes alimentícios, inovamo-os e os diversificamos com as influências africanas, indígenas e euroasiáticas, o que resultou numa das biodiversidades culinárias mais ricas do planeta. Por isso é complicado para os brasileiros que estejam em qualquer parte do mundo, não reclamar, depois de algum tempo, do quase sempre reduzido leque de comidas locais. Claudia, a amiga austríaca, sempre ficou intrigada com a minha constante choramingação de saudade da comida brasileira. Isso foi nos Estados Unidos, um país que é tão grande quanto o Brasil, mas que não é páreo para nós em t

“Depuration”

...So take my hands and come with me We will change reality So take my hands and we will pray They won't take you away...  ( trecho de Animal Instinct) Sempre no tema música, pois sem ela a vida, bem, não seria... Eu estava lá, um alfinete a mais na caixinha lotada de alfinetes coloridos que conferiram o show do The Cranberries. Não sei se eles subestimaram o número de fãs e curiosos ou se não ligaram mesmo para o fato de que reservar metade do ginásio Nilson Nelson, sem direito à arquibancada, transformaria as tais pista e pista premium num forno apertado. Suei em baldes e mal pude me mover, o que para mim significa pular freneticamente e alucinadamente desconjuntando pernas, braços e cabeça. Tive que ficar ali me comportando, que coisa! Aliás, tinha uma menina na minha frente que parecia um muro de contenção de entusiasmo. A mulher não se movia. Como é que pôde assistir à Dolores cantar “Linger”, “Salvation” e “Ode to my family” sem esboçar a mínima? Mas eu não me intim

A benção, mãe!

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“Sob a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia” Eça de Queiroz Os portugueses são um povo apegado às palavras. Por onde quer que a gente caminhe nas ruas lusas, há sempre um poema impresso nas paredes, muros e azulejos. Um pouco diferente dos brasileiros, que estão sempre a escrever em inglês e que pouco divulgam os escritores nacionais nos espaços públicos. E a outra de poesia...(Oceanário de Lisboa) Luís de Camões está enterrado em lugar solene, em uma das mais belas basílicas do país, no Mosteiro dos Jerónimos. Jazz em túmulo espetacularmente esculpido ao lado de ninguém menos que Vasco da Gama. Infelizmente, a pompa e circunstância que o acompanham na eternidade não lhe foram conferidas em vida. Morreu pobre e sem fama o pai da língua portuguesa. Quem sabe não foi essa nota triste a responsável pelo povo português rever conceitos em relação à língua? Hoje, o que percebemos ao visitar o país é um habitante orgulhoso e brioso de estampar o Português em tudo. Nomes

Isso é um show, não um assalto

Uma das coisas mais legais de se ter filhos é poder pagar mico em nome da maternidade, curtindo que nem criança os prazeres infantis. Sábado passado fiz uma viagem de 200 Km para assistir ao show do grupo Palavra Cantada. Faria outra, pois valeu todo o calor intenso de Goiânia para conferir, ao vivo, o talento sem igual dessa dupla: Sandra Peres e Paulo Tatit. Os caras arrebentam, acompanhados de um grupo de jovens bem jovens que fazem de tudo: tocam percussão, soltam a voz no backing vocal, atuam, dançam....Sandra e Paulo, que parecem conservados em formol (os caras não envelhecem), são coroas que não têm medo de serem meninos. A verdadeira fonte da juventude, mais poderosa do que qualquer botox. É de dar orgulho ao Brasil ter um pessoal desses fazendo trabalho de altíssima qualidade para a galerinha. São músicas de letras e melodias impecáveis. Som de primeira, com mensagens legais, sem ser enjoadas ou didáticas. A intenção é falar de assuntos importantes sem “lição de moral”.

Campo de Estrelas

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“Para onde eu vou a vida é curva e não é linha” Pedro Abrunhosa, cantor e compositor português A rua 25 de março às vésperas do Natal. Essa é Santiago de Compostela que, junto com Roma e Jerusalém, forma a tríade mais visitada do mundo pelos cristãos. Durante o dia, o formigueiro humano é bastante eclético. Ponto final do místico caminho de Santiago que, de fato, como tudo na vida, são muitos, a Catedral do Apóstolo é sem igual. A única que não devia saber disso era eu, a turista acidental que pretendia encontrar um portal com os dizeres: “aqui começa o caminho de Compostela”. Se tudo na existência fosse fácil, viver não seria mágico. E tome mico! Assim, depois de aprender a primeira lição espiritual da cidade, prostrei- me diante da construção medieval mais importante da Espanha. Porque Santiago de Compostela fica na Galícia, que é espanhola, mas com um pouco de birra. Afinal, os galegos foram obrigados a silenciar sua própria língua durante 300 anos. O castelhano per

Faça-se a luz!

Não entendo de política, nem leio sobre o assunto no jornal. Me confessando assim, posso até parecer uma alienada, mas acredito que vejo a política acontecer no dia a dia. Acompanho o que pensa o taxista, a empregada doméstica, o porteiro, os estagiários do meu trabalho. Converso também com os amigos e conhecidos. Estou atenta ao que de bem e mal fazem ao Brasil. Mas não sou analista política. Tem muita gente boa aí pra fazer esse trabalho. O que escrevo agora é fruto da minha indignação. Cada um tem o direito de votar em quem quiser (mesmo que seja na inominável Weslian Roriz). O eleitor não tem como justificar um voto desses, na minha opinião, mas ele é livre – teoricamente – para fazer a sua escolha. E é aí que entra o problema. Na teoria, o conceito de voto secreto pressupõe a liberdade. O que vemos acontecer agora, nesses dias que antecedem o segundo turno das eleições, é pura manipulação. Estão fazendo uso de superstições e crenças religiosas para turvar o debate sério acerca

Bivitelinas

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Pôr do sol no rio Douro Fiquei totalmente apaixonada por Coimbra. Porto, com suas casinhas encarapitadas umas nas outras parece desafiar a lei da gravidade, pronta para mergulhar no Douro. Coimbra, por sua vez, olha o rio Mondego sem pretender uma íntima aproximação, altaneira. Porto é boêmia, juventude de algazarra. Coimbra é intelectual, juventude politizada e contestadora a grafitar nas paredes: “Facismo nunca mais”; “greve geral em 25 de abril”; “Portugal precisa de você...longe daqui”. Espero que tal marcação territorial não seja direcionada para os milhares de turistas do mundo inteiro que desembarcam no país. Mas não era não. Não senti por parte dos portugueses nenhuma hostilidade. Eles são mais sérios do que nós. Só isso. Passear pela Universidade de Coimbra é sentir pulsar no cérebro mais de 700 anos de conhecimento. Quantos milhares de alunos e professores pisaram as mesmas pedras, miraram o mesmo delicado horizonte lá de cima, ensinaram e aprenderam teorias que foram

Programa Mulherzinha ao quadrado

(Para não dizer à quinta potência) é assistir “Comer, Rezar, Amar” no cinema. Desde a fila, dá para perceber a mulherada em polvorosa. Havia uns cinco projetos de perua na minha frente para comprar o ingresso. Resultado: levei mais de meia hora porque as meninas não sabiam se passavam batom, se conferiam o visual uma das outras de cima abaixo ou se encontravam o dinheiro na carteira. Mas eu também estava lá, junto com um grupo heterogêneo de peruas uma década e meia à frente. Mulheres bem resolvidas e descoladas que se encontram para fazer um programa semanal cor-de-rosa. Pedi para entrar na lista na cara dura (temos uma amiga em comum) e elas simpaticamente me incluíram, convidando-me para o programa da semana: ver o filme da Julia Roberts. Pois é, Julia Roberts continua sendo um grande chamariz. O sorriso largo da estrela é irresistível, mas, nesse filme, ela só sabe mesmo é chorar. Julia estava mais para Regina Duarte na época de “namoradinha do Brasil”, sofredora inveterada dos

Enfim!

Cheguei! Atendendo a pedidos - que se contam nos dedos :) - me rendi ao blog. Acho que é o destino natural de quem gosta de escrever e aparecer. Lógico que tem um monte de gente blogando por aí que só gosta mesmo é de aparecer, mas também tenho a pretensão de poder escrever coisas legais para não ficar entulhando a web de lixo. Abaixo os pneus velhos, as latas e garrafas plásticas! Na minha rede, o mar é pra lá de ecológico. E se quiserem colocar a culpa em alguém, coloquem na Julie. Foi ela, com aquele filme inspirador, o "Julie&Julia", que me fez compreender: "EU TENHO IDEIAS!" Se são boas ou não, vocês vão me contar. Vocês serão o meu termômetro, combinado? Nem acredito que estou aqui, apanhando na ferramenta, ralando para fazer do computador um amiguinho camarada. Mas agora já fui. Não dá mais pra voltar atrás. Apertei o botão (ainda bem que não é o da bomba atômica). Por esse lançamento, agradeço totalmente ao maridão. Sem o cara no meu pé de sereia, nã

Conhecer para reconhecer a si mesmo

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A curiosidade leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América. Eça de Queiroz Viajar é a melhor maneira de você gastar o seu dinheiro. Depois da aquisição do seu lar doce lar, é claro. (Não quero incentivar ninguém a viver eternamente pagando aluguel). Mas, como eu ia dizendo, não tem investimento mais saudável do que conhecer novos lugares. É um verdadeiro reset na cabeça (roubei a analogia de uma amiga). Viajar para Portugal, então, eleva o seu gasto à categoria de lucro certo. Pena que muitos brasileiros chegam a visitar toda a Europa, mas nunca põem o pé na terrinha. Entretanto, não sabem o que perdem em História, beleza e compreensão da nossa alma lusa. Porque, quer queiramos ou não, somos essencialmente portugueses. Praça do Comércio - Lisboa Quando pisei em Lisboa, descobri o quanto era ignorante em relação ao país que nos colonizou. Falha do nosso sistema educacional que privilegia a queda do império Romano, o estudo da Mesopotâmia e dos egípcio